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MOSSORÓ

Praça mais importante da cidade e monumento em homenagem ao ex-governador Dix-sept Rosado em situação de abandono

Publicado

em

Fotos: Rogério Dias

Por Gilberto de Sousa

A falta de cuidados com a praça vigário Antônio Joaquim, no coração de Mossoró, notadamente no entorno do monumento histórico do ex-governador do Rio Grande do Norte Dix-sept Rosado, vem despertando a atenção de quem transita pelo local, em razão do agravamento de uma situação que parece vir passando despercebida pelos poderes públicos.

O publicitário Rogério Dias documentou o descaso através de fotografias mostrando a sujeira no espelho d´água, que se apresenta com coloração esverdeada em conseqüência da água parada devido a falta de manutenção.

Dejetos também foram encontrados no espaço, além de lixo em diversos locais da praça, hoje, tomada por moradores de rua e parte de usuários de drogas. Aos poucos o local está se transformando em ponto de consumo de crack. A pouca assistência aos moradores do local, chega através de grupos de caridade, que servem sopa no começo da noite e em alguns casos distribuem cobertores.

Esse problema que se acentua, sem que nada de concreto esteja sendo feito pela Prefeitura de Mossoró para atenuá-lo, acontece exatamente na praça mais importante da cidade, a conhecida praça da catedral de Santa Luzia, onde tudo começou ainda no século XVIII. Em meados de 1760, o sargento mor português Antônio de Souza Machado e sua família se instalaram no local com anseio de povoar aquele lugar. Ele foi proprietário da fazenda Santa Luzia e mandou construir uma capela em homenagem a santa de sua devoção, um dos marcos fundamentais ao surgimento de Mossoró. A capela foi fundada oficialmente no dia 5 de agosto de 1772. Daí, Santa Luzia, a padroeira da cidade.

A praça já foi palco de muitos eventos importantes e que até hoje povoam inúmeras lembranças da geografia humana de Mossoró ao longo dos tempos. A estátua do ex-governador Dix-sept Rosado, foi inaugurada em 1953, dois anos após a sua morte.

Viés político
Para muitos observadores da cena política de Mossoró, o esquecimento do monumento em homenagem a Dix-sept Rosado, não deixa de ter um viés político. Logo que venceu as eleições municipais derrubando a hegemonia da família Rosado, que “reinava” há muito tempo na cidade, o atual prefeito Allyson Bezerra, no auge da sua empolgação, não escondia de aliados próximos, sua intenção de tentar apagar a memória e o legado da família Rosado em Mossoró. Para uns, um delírio, para outros, uma possibilidade, mesmo muito distante.

A verdade é que, a importância da família Rosado para Mossoró na política, e o legado de Dix-sept Rosado, certamente jamais serão esquecidos diante dos anais históricos.

Memória

Jerônimo Dix-Sept Rosado Maia foi o 18.º prefeito de Mossoró e o 37.º governador do Rio Grande do Norte. Filho de Jerônimo Rosado e de Isaura Rosado Maia, era irmão dos saudosos professor Jerônimo Vingt-un Rosado Maia, do ex-prefeito Dix-huit Rosado e do deputado federal Jerônimo Vingt Rosado Maia, deputado federal. Ele morreu num desastre aéreo na região do Rio do Sal, na costa do estado de Sergipe, antes de completar um ano de seu mandato como governador.

Era pai dos ex-deputados Betinho Rosado e Carlos Augusto Rosado, da professora Isaura Amélia Rosado e sogro da ex-prefeita Rosalba Ciarlini.

Inauguração da estátua de Dix-sept Rosado em 1953 – Foto: Reprodução

O historiador Geraldo Maia resgata a história do empreendedor e político de Mossoró e do Rio Grande do Norte, em texto publicado no jornal De fato:

“Em 25 de março de 1911 nascia em Mossoró Jerônimo Dix-sept Rosado Maia. Mais um filho da já “numerosa e numerada” família do farmacêutico Jerônimo Rosado, um paraibano de Pombal que chegou a Mossoró em 1890, a convite do Dr. Almeida Castro, para instalar uma farmácia na cidade.

No Primeiro Cartório Judiciário de Mossoró, livro nº 05, folha 28v, sob o nº 19, foi a criança registrada, tendo como declarante Jerônimo Rosado, sendo o ato testemunhado por Júlio Coriolano Dias e José Cândido da Rocha. A infância do menino Dix-sept foi normal, em nada diferenciando da dos demais irmãos.

O escritor Hélio Galvão, o seu biógrafo, registra: “O menino Jerônimo, Dix-sept na ordem do nascimento, ia crescendo, sem incidente de saúde e sem destaque de nota entre os irmãos. Brincava como os outros, aqueles brinquedos rudes dos anos do primeiro decênio do século, em que nem se pensava na explosão dos plásticos sem graça e sem imaginação, feitos em massa pela sociedade de consumo”.

Já adolescente, passou a trabalhar na indústria de extração e comercialização de gesso fundada por seu pai, tornando-se, alguns anos depois, sob a razão social de S.A Mineração Rosado, acionista e principal dirigente.

Revelou desde cedo interesse pelo funcionamento de motores e máquinas, principalmente pelo desmonte e reparo de automóveis, atividade que passou a dominar, orgulhando-se por conhecer o estado do motor pelos seus movimentos, pelas vibrações ou pelo ruído, paixão que o acompanhou por muitos anos.

Não se contentando apenas com suas atividades empresariais, ingressou, em 1938, na firma Mossoró Comercial Ltda., gerenciando-a por quase 10 anos. Soube, no entanto, conciliar as suas atividades, tanto assim que expandiu a Mineração Jerônimo Rosado, criando no Rio de Janeiro a Gesso Mossoró Ltda., para comercialização do gesso de São Sebastião.

E outras empresas foram surgindo no itinerário do minério: frotas de caminhão, para transportar o produto até o Rio Mossoró e barcaças para levar até o porto de Areia Branca. Não era um homem culto; era um homem trabalhador. Contava no seu currículo escolar apenas com o curso ginasial, concluído por muita insistência da família.

Mas era um empreendedor e excelente administrador. E um homem com tamanho talento para negócios, nascido e criado numa cidade como Mossoró, não podia escapar da política e foi esse o seu destino. Em 21 de março de 1948 foi eleito como terceiro prefeito constitucional de Mossoró, tomando posse do cargo no dia 31 do mesmo mês e ano.

Com o seu dinamismo, revolucionou todos os setores da vida pública e até mesmo privada do município, implantando uma administração arrojada. Não concluiu, no entanto, o seu mandato, que deveria terminar em 1951. Alçou voos mais altos, sendo eleito governador do Estado do Rio Grande do Norte a 6 de junho de 1950, quando já se encontrava licenciado, assumindo o governo em 31 de janeiro de 1951.

Era a coroação de uma carreira política brilhante e meteórica, para orgulho do povo mossoroense e para o desenvolvimento do Estado. Como Governador, formou um secretariado competente, escolhendo auxiliares técnicos da maior evidência no cenário político-administrativo do Estado. E impôs seu estilo de governo dinâmico e progressista, com muito trabalho e visão do futuro.

Mas decorrido apenas dois meses de sua administração, foi surpreendido com a notícia da morte de maneira trágica, num desastre de automóvel em Tacima, no Estado da Paraíba, de Mário Negócio, um de seus mais diletos auxiliares.

Não sabia ele que a tragédia ditaria o rumo do seu governo, pois em 12 de julho de 1951, nas proximidades do campo de pouso de Aracaju, em Sergipe, cinco meses após a sua posse, morria Dix-sept Rosado Maia, em pleno exercício de suas atividades governamentais.

Passou pela política norte-rio-grandense como um bólido, deixando em seus rastro o brilho da glória e a saudade do povo de Mossoró, que chorou e nunca esqueceu o seu filho mais ilustre: Jerônimo Dix-sept Rosado Maia.”

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